Friday, May 9, 2014

O agente laranja (6/5/14)

Fotos: https://www.dropbox.com/sh/ccogsdcmq816kmx/AADEPz7iMNWzpUDURZnlLo6_a
(As fotos de fundo laranja são muito fortes)

Acordei com o capitão anunciando 34 C, uma péssima
noticia, já estava com saudade da temperatura amena de Hanói. 

Na hora que pisamos para fora do aeroporto uma mulher de uniforme  veio noa perguntar se queríamos taxi, respondemos que sim, quando vi o veículo não era de nenhuma das cias indicadas pelo hostel, me senti um besta, tinha caído no golpe do taxi caro. 

Ledo engano, o taxi deu o mesmo valor previsto mas o melhor foi o papo com o taxista. 

O sujeito entendia bem de economia e política, quando dissemos que éramos de Brasília ele ja soltou, "the capital". Fiquei realmente impressionado, ai comecei a falar de economia, politica e educação. 

Falei para ele que sabíamos algo sobre Cuba e Venezuela mas nada sobre o Vietnã, que eu imaginava algo completamente diferente. 

Ele riu e disse que a maioria das pessoas se surpreendia, que a economia evolui depois de 86 com a abertura do mercado. Que eles recebiam investimentos de todas as partes de mundo. 

Perguntei se as estradas eram privatizadas, pois em algumas existe pedágio. Ele me disse que a maioria e do governo mas algumas são de investidores. 

Comentei sobre as pequenas fazendas e ele disse que era uma politica de governo mas que existiam grandes fazendas iguais às do Brasil. Que eles eram o segundo maior exportador de arroz e o terceiro de café, que basicamente eram um país agrícola. 

As escolas eram todas públicas, que ensinavam inglês (escrita e leitura bem, escuta e fala mais ou menos). Disse que a maioria dos jovens é capaz de se comunicar em inglês, os mais velhos, acima de 40, dificilmente. 

A impressa é controlada pelo governo, os filmes com cenas de sexo adaptados. Podem ter tv a cabo, a internet é controlada, só não sabia muito bem como, mas pelo que andei navegando não vi nenhum tipo de bloqueio. E olha que busquei palavras do tipo censura, prisioneiros políticos, etc. 

A corrida de taxi valeu muito a pena. Conseguimos fazer  early check in, deixamos as malas no quarto e fomos almoçar. 

Acertamos mais uma vez no almoço. O lugar oferecia aulas de comida Viet, e almoços de menu completo. Como não dava tempo de fazer a aula (quando voltar com certeza farei). 

O restaurante me pareceu familiar, era pequeno, simples mas tinha as paredes todas escritas (fotos) com mensagens de pessoas de todo o mundo, elogiando o serviço e a comida. Claro que no final deixamos uma mensagem com a bandeira do Brasil, nao tinha achado nenhuma.

A comida muito boa, tirando um peixe e um frango com capim limão, pra mim não combina muito. 

Hora de bater perna no sol escaldante. Próxima parada palácio nacional da reunificação, ex sede do Vietnã do Sul. Uma palácio presidencial cheio de luxo, fotos de encontros importantes, alguns tanques da guerra no jardim e um F5E que possuía uma história curiosa. 

Esse caça era das forças do Sul mas foi roubado por um soldado do norte. Ele entrou na base aérea e furtou, simples assim. Fiquei pensando. Os caras já são meio parecidos, imagina careca e de uniforme e no meio de uma guerra, qual a chance de sacar que o sujeito era do Norte ou do Sul? 

Esse mesmo caça foi usado para bombardear esse palácio, um dos últimos focos de resistência americana (se eu me lembro bem, a história foi essa). 

Os pontos turísticos sempre muito cheios, a maioria asiático (furando a porra da fila) e alguns ocidentais. 

Dali seguimos para o museu de memória  de guerra. Na entrada alguns tanques, aviões e barcos de guerra. 

Pelo museu você vê que o objetivo americano era fazer com que o Vietnã voltasse a idade da pedra (palavras de um militar americano que li na parede). Eles bombardearam sem dó durante uns 20 anos. 

As galerias mostram fotos da guerra, armamentos, reportagens, cartas e uma sala com fotos de jornalistas que cobriram a guerra. 

Mas o mais chocante é a sala laranja, referência ao agente laranja (arma química usada na guerra). 

O nó na garanta que tive foi muito parecido com aquele que tive no museu de Hiroshima. Os olhos de todos visitantes estavam cheios de lagrimas, todo mundo em silêncio. 

O horror dos agentes químicos é tão chocante quanto a da bomba atômica. É indescritível, quem tiver estômago pode ver as fotos de fundo laranja. 

As vitimas americanas dos agentes químicos (soldados que estavam em solo e que pulverizaram as cidades) entraram na justica contra o governo e as cias (Monsanto e Dow) e ganharam indenizações, as vitimas daqui entraram com a mesma ação mas não obtiveram
sucesso. 

No final da galeria há uma carta escrita por uma das vitimas (filha de agricultores que trabalharam em terras ainda contaminadas, ela não possui ambas as pernas e um braço) para o presidente Obama, é realmente emocionante, tirei uma foto, acredito que tenha postado. 

Há tabelas mostrando o percurso das cidades que foram pulverizadas, é muito absurdo, o ser humano é um bicho muito mal. 

Como já disse no post de Hiroshima, guerra é a coisa mas estúpida que a humanidade pode cometer, acho que todo mundo deveria visitar esse tipo de museu. 

Uma coisa que me impressionou foi como um país agrícola, apesar do apoio russo e chinês, ganhou a guerra. A superioridade americana era gigantesca mas acho que a vontade do povo por liberdade superou tudo. Acredito que eles preferiam morrer a serem dominados pelos americanos (no final da guerra tanto norte como sul atacavam os americanos). No final, mulheres, homens velhos, qualquer um atacava os americanos com o que tinham a mão. Venceram pelo cansaço, eles nao se renderam em nenhum momento. 

Se nao me engano, foram 3 mi mortos pelo lado vietnamita, sendo 2 mi civis. Durante os ataques os americanos cometeram todos os tipos de crime de guerra possíveis. 

Bem, depois dessa coisa horrível passamos pela catedral de Notre Dame e pelo correio (um prédio francês bem bonito). 

Antes de voltarmos para o hostel tomamos o famoso cafe cagado pela doninha (isso mesmo, o bicho come o grão de café, caga e ai eles pegam a bosta, separam o grão e fazem o café). Cada pequena xícara  custa a bagatela de 15 reais mas vale cada centavo, o negocio é bom pacarai, chega a ser cremoso. 

Depois disso fomos a um supermercado comprar uns cafés para levar para casa. Sempre
gosto de ir a supermercados no exterior, acho curioso ver o que os caras compram, ainda mais na Ásia, a coisa toda é muito diferente. 

Voltamos para o hostel com a esperança de descansamos um pouco no ar condicionado mas quando o quarto estava esfriando a luz acabou. Resolvemos buscar um restaurante para jantar.

A regiao perto do nosso hostel é a típica região mochileira. Aquela gringaiada, o povo pedindo esmola, vendendo coisas, mil restaurantes parecidos, agências de turismo, enfim, muito parecido com aquela porqueira das Ramblas, Amsterdã, Khao San Road, etc. 

Entramos num café não muito promissor, com um garçom bem lerdo mas a comida nos surpreendeu. No meio do jantar rolou um arrastão da policia, eles passaram recolhendo todos os cartazes, display, objetos dos restaurantes que estavam na calçada, uma cena bem curiosa. 

Vencidos pelo cansaço, dormimos e pegamos nosso voo para Bangkok (passamos uma noite) e começamos a longa viagem de volta. 

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