Tuesday, June 30, 2015

Descobri que sou velho (17/4/2015)

Ontem, na empolgação da viagem resolvi descer a trilha da rota da
morte aqui nas redondezas de La Paz.


Em resumo, a descida (downhill) consiste em duas etapas, a 1a no
asfalto, descendo de um pouco mais de 5.000 metros e chegando a 4.000
e pouco na entrada da estrada da morte.

A 2a parte que é o tchan do negocio, voce parte de 4.000 e uns
quebrados e chega a 1.000 e pouco, numa estrada de chao. Nessa segunda
parte são percorridos perto de 30km.

Bem, como sou um trilheiro experiente, NUNCA FIZ MONTAIN BIKE NA VIDA,
nao me amedrontei.

Apesar de nao seguir o pelotão da frente, um bando de gringo
alucinados e experientes imprimia uma velocidade considerável na
descida e nao demorou muito para cair curva.

Como estava devagar, nao foi grandes coisas, apenas uma leve dor no
dedinho. Vida que segue.

Ja perto do fim da trilha, sentia que dominava a bike, ja estava
alucinado. Vuando baixo, numa maldita curva, acabei me enfiando
naquele vala de escoamento de agua. Resultado, o tombo foi gigantesco!


Dessa vez o negocio machucou. Meu punho ficou muito dolorido, fiz uns
movimentos de teste e me pareceu que nada tinha quebrado. Vida que
segue.

Apesar de estar com o corpo quente, o punho doía muito mas a vontade
de vencer a estrada da morte falava mais alto. Cheguei ao ultimo
checkpoint com o punho dolorido e encontrei o resto do grupo.

Informado que faltavam apenas 15 a 20 minutos para o fim, e a maior
parte plana, decidi, sem pestanejar, que iria ate o fim.

Na descida, segurava a bike com as duas mãos e falava todos os
palavrões que conheço. No plano, guiava apenas com a mão boa, a
esquerda.

FIM! Havia vencido a estrada da morte.

Depois disso, teríamos um merecido banho, piscina e um bom almoço num hotel.

Claro que o hotel era ao melhor estilo "bolivian roots way of life",
um negocio bem TOSCO, com cara de abandonado, uma decoração inspirada
no "the walking dead".

Tirando os 300 cachorros e os 200 gatos que circulavam pelo lugar,
inclusive dentro da cozinha, a comida estava muito boa.

Claro que o banho nao podia ficar por menos, água gelada e barrenta. E
claro também que os gringos pularam na piscina nojenta. Gringo é
assim, aproveita tudo que está incluído no pacote, mesmo que seja uma
grande furada.

A essa altura do campeonato o punho já doía pra caralho e eu colocava
um saco com gelo para aliviar a dor.

Uma francesa do grupo, aqui abro um parêntese ( existiam 3 franceses
no grupo, a menina, o namorido e um colega, eram seres odiáveis, eu
juro que torci muito para eles despencarem
desfiladeiro abaixo, nunca vi seres tao insuportáveis na vida, mas
isso eh assunto para outro e-mail), aqui fecho parêntese, era
fisioterapeuta e fiz uma serie de movimentos com a minha mão e chegou
a conclusão que nao havia quebrado nada e que continuasse com o gelo.

Um pouco aliviado continuei com meu gelo mas a o negocio nao parava de doer.

Nossa para de 1:30h se transformou no dobro, ou mais, o motorista foi
consertar a van e nunca mais voltou.

Claro que a gringaiada estava se lixando, ficavam tomando a cerveja
local (Judas) de 1 litro no bico e a porra dos franceses fumavam um
cigarro atrasa do outro.

Enquanto isso a mão so inchava, ja a noite a van aparece! Os 300
cachorros, claro que os gringos rolavam no chao junto com os cachorros
pulguentos e nojentos, ficaram louco com o barulho da van e correram
pra ver a novidade.


Todos embarcados, hora de voltar pra La Paz. Se tinha sobrevivido a
estrada da morte, tinha duvidas a respeito da volta. O motorista
INSANO fazia ultrapassagens na faixa continua, na curva, na neblina,
de qualquer jeito.

Enquanto isso, nossos queridos amigos franceses fumavam dentro a van,
um deles colocava o corpo para fora da janela, berravam as musicas que
o imbecil do guia colocava no som, dançavam e bebiam cerva quente.

Nunca 85 km foram tão longos, chegando a La Paz perguntei ao guia se
existia algum hospital na região do meu hostel, claro que o imbecil
nao sabia. E com espanto me perguntou se eu estava bem, quase que
respondi em portugues "claro que estou bem seu corno, eu apenas gosto
de ficar com gelo na mão ate derreter e depois com a mão para fora da
janela depois do gelo derreter (técnica que desenvolvi no desespero da
dor, o vento gelado anestesia tudo) no frio de rachar da bolivia por
diversão", mas me contive e so disse que estava doendo.

Chegando no hostel liguei para o seguro do cartao (master) e fui muito
bem atendido. Uma hora depois eles me retornavam indicando uma
clinica. Na dor consegui compreender perfeitamente o espanhol da
atendente, também falei "perfeitamente".

Ja passava da meia noite quando me apresentei a clinica Alemana, fui
MUITO BEM atendido, nao havia fila de espera e a Dra Cláudia ja me
chamou pelo nome. O seguro do cartao realmente é TOP!

Raio-x tirado, nas quebrado, receita passada, hora de dormir.

Hoje acordei bem melhor, sem forcas na mão direita mas sem muita dor.

É, estou velho pra isso... Mas encararia novamente a estrada, dessa
vez bem devagar.